Afetividade Condicional‏

Primeiro Post de Minha queria Mamãe; transcreveri exatemente como ela me envia, o titulo é dado por ela nos proprios e-mails.

Este trecho copiei já do final de “Minha Razão de Viver – Memórias de um Repórter”, de Samuel Wainer. Era abril de 64, ele estava asilado na embaixada do Chile

“Livre desses problemas cotidianos, poderia dedicar-me às coisas de que gostava e, mais importante ainda, a três pessoas que amava particularmente: meus filhos, com os quais sempre tive relações muito especiais. Pinky, Samuca e Bruno atravessavam sem esforço algum a couraça que sempre bloqueou minha afetividade.
Hoje, percebi que só a eles me entreguei integralmente – com meus filhos me mostro, me solto, me dou. Conheço seus defeitos, mas esses defeitos não me incomodam: não me custa relevá-los, porque a ligação que nos une é ilimitada, incondicional. Não sou assim com outras pessoas. Apaixonei-me por muitas mulheres, mas nunca me entreguei sem cautelas, e algumas delas se afastaram de mim justamente por constatar que não conseguiriam vencer a distância que nos separava. Quando alguma ligação afetiva terminava, aliás, eu não achava que estava perdendo alguém. Tinha a sensação de quem acabava de se libertar.
Essa compulsão de preservar-me de doações afetivas incondicionais me manteve a certa distância tanto dos políticos com os quais convivi até fraternalmente quanto dos amigos que viveram comigo a imensa aventira da Última Hora. Neste caso, movia-me também a convicção de que o homem que lidera não pode ter limitações afetivas, não pode esbarrar em vínculos sentimentais. O homem que lidera é um homem só. Confesso, honestamente, que jamais alimentei uma grande amizade. Tive amigos que se sacrificaram por mim, que me contemplaram com gestos de extrema generosidade. Tive, em resumo, amigos que me amaram, mas eu nunca soube retribuir, nem mesmo fui ao enterro de alguns deles. Recebi muito mais do que dei. Poderia ter-lhes oferecido demonstrações de afeto ao longo de trinta, quarenta anos de convivência,. Mas me contive. Embora os amasse.
Com meus filhos sempre foi diferente…”
Livia D-X

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